
Uma vez Newton (não me recordo qual) disse que “não existem exercícios contra indicados, mas pessoas contra indicadas para determinados exercícios em determinados momentos”. Após ter feito os Stories incluindo este exercício e sua prática, tive algumas perguntas e solicitações sobre o que eu acho deste exercício. Bom, acredito que a função de um treinador responsável não é achar algo a respeito de determinado exercício, mas analisá-lo e enquadrar sua aplicabilidade (se for o caso) ao aluno mais propenso a ele.
O primeiro ponto que precisamos entender aqui, na Flexão Nórdica Reversa, é que ela trabalha nada mais nada menos que a articulação do joelho, realizando na fase concêntrica, extensão parcial e, portanto, torna-se um exercício para quadríceps como um todo. Obviamente que esta extensão parcial impede a máxima contração do quadríceps, sobretudo dos vastos, mas honestamente isso não representa problema algum e voltaremos nisso mais adiante no texto. Na verdade, finalizaremos o texto com essa abordagem. Vamos por partes.
Biomecânica:
Analisando a 2ª imagem, percebemos 3 marcadores importantes vistos em todo e qualquer exercício:
Ponto de apoio ou eixo – representado aqui pela bolinha amarela no joelho da moça;
Resistência – representado aqui pela bolinha vermelha próximo do suvaco da moça;
Inserção muscular ou ponto de Força – aqui representado pela bolinha branca próximo da inserção do tendão quadricipital da moça.
A partir destes 3 marcadores, percebemos que a medida que a fase excêntrica vai se estendendo, aumentamos consideravelmente o Braço de Resistência ou BR (dupla seta amarela) neste exercício, ao passo que o Braço de Força ou BF (dupla seta branca) praticamente não se altera. Com este aumento do BR e redução do BF, perceberemos uma redução da Vantagem Mecânica, ou seja, a musculatura alvo deverá realizar uma força absurda para conseguir vencer toda essa resistência oferecida.
Ainda na biomecânica, esta relação estabelecida entre a distância do ponto de aplicação de força ao eixo, e do eixo ao ponto de aplicação da resistência, nos permite classificar este sistema de alavancas como interfixa, ou seja, é perfeitamente normal percebermos esta oscilação da Vantagem Mecânica ao longo do exercício, haja visto seu eixo estar posicionado entre a Resistência e o Ponto de Aplicação de Força.
Comparativamente, qual a diferença então entre uma cadeira extensora e a Flexão Nórdica Reversa se ambas trabalham apenas na extensão de joelhos? A diferença é que na Cadeira Extensora, passamos por um duplo processo de incapacidade de continuar produzindo força, seja pela adição de braço de resistência, seja pelo encurtamento das fibras ao longo da fase concêntrica.
Compressão Patelar:
Sério? Esquece isso jovem. Durante todo este exercício seu ponto de apoio serão os platôs tibiais. Sua patela estará deslocada superiormente, sobre o fêmur.
Fisiologia:
Sempre em qualquer musculatura biarticular, perceberemos ações contráteis na sua região mais proximal, mais distal, ou em ambas (podendo acarretar Insuficiência ativa – o que não é sempre e nem é o caso aqui).
No início do texto comentei que durante toda sua execução, a Flexão Nórdica Reversa apresenta um processo de contração incompleta dado a extensão parcial dos joelhos, sendo, portanto, um exercício para quadríceps. Porém, vale aqui darmos a devida atenção ao reto femoral em comparação aos vastos.
Na década de 60, Andre Lapierre definiu 4 possíveis amplitudes de movimento e suas adaptações quanto ao comprimento total dos músculos na relação ventre-tendão. Aqui, na Flexão Nórdica Reversa, percebemos uma amplitude classificada como Excêntrica Completa e Concêntrica Incompleta. Como consequência, teríamos um aumento do comprimento dos tendões e, como consequência, uma diminuição do ventre muscular das musculaturas do quadríceps. Claro que, como o alongamento é mais considerável, o comprimento total da musculatura tende a aumentar.
Porém, antes de cairmos de elogios no campo prático, cabe a ressalva que o Reto Femoral, principal e mais forte musculatura do quadríceps, não somente é extensora do joelho como flexora do quadril. E o que acontece quando temos uma estrutura fixada em rigidez ou encurtada, e tentamos alongar severamente ambas porções (distal e proximal) mobilizadas por ela?
Sim, compensações biomecânicas.
Então antes de aplicar a Flexão Nórdica Reversa, tenha a certeza de que seus alunos não apresentem nenhuma dominância muscular nas musculaturas envolvidas. Afinal de contas, exercício bom só serve se ajudar a estrutura em questão e não prejudicar outras.
Para finalizar, e complementar todas as informações contidas acima, tenha em mente que músculos como glúteo máximo será acionado por co-contração para sustentar a extensão do quadril e, grupamentos como reto abdominal, oblíquos e transverso do abdome e eretores da espinha, serão acionados por co-ativação para sustentar a estabilidade lombo-pélvica durante todo o movimento.
Mais uma vez, é preciso pensar GLOBAL antes de aplicar LOCAL.
Onde esta as referências bibliográficas relacionadas as suas afirmações descritas acima neste post. Vale lembrar que como profissional de educação física todos assuntos explicados devem estar baseados no que diz os estudos cientificos baseados em fatos atualizados. Até porque contra fatos não a argumentos. Do contrário acabamos caindo na cilada do achismo do alguém me disse ou ouvi falar.
Todo o texto tem por apoio o conteúdo básico da Educação Física, como biomecânica, anatomia e fisiologia (sobretudo quanto a composição do tecido muscular). O texto em si é um texto de opinião com base na literatura básica, não reconhecer isso e pedir referências é desconsiderar o conteúdo repassado em sala de aula. Mas se faz tanta questão, segue.
HALL, Susan J. Biomecânica Básica. 7. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
KENDALL, Florence P.. Músculos: provas e funções. 5ª ed. – São Paulo : Manole, 2007.
NIEMAN, David C.. Exercise testing and prescription: a health-related approach. 7ª ed. Mc Graw Hill : New York, 2010.
ZATSIORSKY, Vladimir M.. Biomecânica no Esporte: Performance do desempenho e prevenção de lesão. 1ª. ed. – Rio de Janeiro : Koogan, 2004.
POWERS, Scott K.. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desporto. 5ª ed. – São Paulo : Manole, 2005.
Excelente explicação e exercício, eu inclui-o em minha rotina e gostei bastante sobre os resultados obtidos.
Excelente notícia, Fabão!!!