Peitoral maior e suas variações de supino

Peitoral maior e suas variações de supino

Há um tempo atrás escrevi este artigo tratando das mudanças de banco para o exercício supino e suas implicações biomecânicas. Parece que, a meu ver, do tempo que escrevi para os tempos atuais que vivemos, poucas coisas mudaram. Cabe aqui, portanto, um “repeteco”. Boa leitura.

Antes de tratarmos especificamente do exercício em si, devemos classificar o peitoral quanto a “onde” ele surge e “para onde” ele vai. E claro, o que ele faz neste caminho. Vamos lá?

ORIGEM, INSERÇÃO E FUNÇÃO MUSCULAR –
O peitoral maior é subdividido em 2 partes principais (esternocostal e
clavicular), sendo que alguns autores chegam a subdividi-lo em 3 (esternal, clavicular e abdominal) e, apesar de terem inserção distal exatamente no mesmo ponto, diferem-se e muito quanto a sua origem (inserção proximal) e disposição de fibras. Vejamos:
 Peitoral maior (porção clavicular) – Origem na metade medial da
superfície anterior da clavícula;
Inserção no tendão plano 6 ou 7 cm distante do lábio lateral do sulco
intertubercular do úmero. Possui de acordo com seus planos de movimento as seguintes funções:

 Plano transverso – Rotação medial (cotovelo para fora) e Adução
horizontal (baixar o braço ao lado do tronco);
 Plano Diagonal ou Plano Misto – Adução diagonal;
 Plano Sagital – FLEXÃO
 Plano Frontal – ABDUÇÃO

 Peitoral maior (porção esternocostal) – Origem na superfície anterior da
cartilagem costal das seis primeiras costelas e porção adjacente do esterno;
Inserção no tendão plano 6 ou 7 cm distante do lábio lateral do sulco
intertubercular do úmero. Possui de acordo com seus planos de movimento as seguintes
funções:

 Plano transverso – Rotação medial (cotovelo para fora) e Adução
horizontal (baixar o braço ao lado do tronco);
 Plano Diagonal ou Plano Misto – Adução diagonal;
 Plano Sagital – EXTENSÃO
 Plano Frontal – ADUÇÃO

Vamos a outro fator então: A BIOMECÂNICA, onde exploraremos bastante de conceitos como, por exemplo, o Braço de Força.

Aproveitando a deixa, deixe-me fazer um adendo.

Braço de força é a distância perpendicular entre o eixo de movimento e o ponto de aplicação de força, ou seja, no caso do supino o eixo de movimento seria sua articulação glenoumeral e o ponto de aplicação de força, o peitoral maior.

Ao analisarmos pelo prisma da biomecânica, veremos claramente que o Braço de Força do peitoral maior porção clavicular é bem menor quando comparado à porção esternocostal, o que reflete um aumento na alavancagem, ou seja, ao aumentarmos o braço de força conseguimos gerar maior torque na musculatura envolvida e mover o peso com maior “facilidade”. Ao passo que estamos aumentado o braço de força, o braço de resistência (distância entre o eixo de movimento e o ponto de aplicação da resistência) permanece inalterado, o que confere ao exercício nenhuma alteração na vantagem mecânica. Ao variarmos de supino plano para supino inclinado devido ao reposicionamento do úmero em relação ao tronco (mais rodado externamente), as fibras claviculares do peitoral maior passam a ter aumentado seu comprimento, aumentando assim seu potencial de contração por partir de uma posição mais alongada (pré-estiramento) e, justamente por este motivo, ou seja, o esforço exigido para que ocorra o movimento é aumentado. No mesmo exercício, o peitoral maior porção esternocostal se alonga ainda mais devido ao reposicionamento do úmero em relação ao tronco, aumentando assim
seu braço de força e aumentando assim sua vantagem mecânica, fazendo com que seu trabalho seja ligeiramente reduzido.
Ao trabalharmos esta mesma variação com halteres, aumentamos mais ainda a solicitação da porção mais esternocostal devido ao aumento da amplitude permitida pela livre ação em cadeia cinética aberta proporcionada pelos halteres (diferente da cadeia cinética mista proporcionada pela barra que reduz a amplitude da ação concêntrica). No supino plano o procedimento se inverte, ficando o braço de força do peitoral maior porção clavicular ligeiramente reduzido, aumentando sua vantagem mecânica e reduzindo seu esforço. Da mesma maneira o peitoral maior porção esternocostal retorna a sua posição original, retornando assim a sua vantagem mecânica fisiológica (não fica nem aumentada nem reduzida) e, como esta porção apresenta maior área quadrada, estabelece-se boa produção de força. Desta maneira, temos no supino inclinado um exercício de grande contribuição para o desenvolvimento do peitoral maior porção clavicular, bem como temos no supino plano uma potencial contribuição para o desenvolvimento da porção esternocostal do peitoral maior. Óbvio que, ao dizermos variações de supino para determinada porção muscular não estamos dizendo em isolamento muscular porque isso é impossível dado a tensegridade que nos compõe tornando o isolamento uma utopia. Funcionamos como uma unidade única. Mas quem aqui disse que estou querendo isolar? Quem disse que estou querendo trabalhar apenas o que é apresentado nos papers e gráficos e tratamento estatístico?

Para finalizar, fica um trecho da conclusão do artigo recente utilizado nos
gráficos da figura 2 (SILVA, 2012). “Os achados revelaram que a ativação da parte clavicular do peitoral foi significativamente maior em 44º e 56º quando comparada a 0º  e em 44º  comparada a 28º. Já ativação da parte esternocostal foi significativamente maior em 0 o  quando comparada a 28º, em 0º  comparada com 44º , em 0º  comparada com 56º , e em 44º comparada com 56º . Sendo assim, o estudo conclui que para uma melhor ativação das diferentes fibras do peitoral, é necessário realizar o exercício supino na horizontal (0º) e inclinado (44º ).”

REFERÊNCIAS:
FLOYD, RT. Manual de Cinesiologia Estrutural. Vancini, 16ª. Ed. Barueri, SP :
Manole, 2011.
SILVA et al. Estudo eletromiográfico do exercício supino executado em
diferentes ângulos. Revista Andaluza de Medicina del Deporte. 2014;7(2):78-82. Disponível em (http://scielo.isciii.es/pdf/ramd/v7n2/original6.pdf )

SE INSCREVA PARA RECEBER CONTEÚDO EXCLUSIVO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *