Princípios do Treinamento Esportivo

Princípios do Treinamento Esportivo

Uma Revisão Crítica

Muitos são os fatores que interferem no processo de treino, que norteia o treinador a estruturar melhor os programas de treino, bem como toda a periodização, permitindo que o trainee (aquele que executa o treinamento) alcance sua forma desportiva.

Uma observação importante, é que para indivíduos comuns (não atletas), podemos considerar a forma desportiva simplesmente como o alcance dos objetivos propostos.

Porém, ao olharmos com atenção para o arcabouço teórico da teoria do treinamento esportivo (sobretudo a ocidental), perceberemos algumas considerações conceituais importantes, mas muito mal interpretadas. E neste texto, vou elencar 5 delas. Estas 5, chamamos especificamente de “Princípios do Treinamento Desportivo”.

Um dos pioneiros no assunto, aqui no Brasil, Manoel Tubino, em 1984, elencou os 5 princípios do treinamento esportivo. Mais tarde, Estélio Dantas, em 1995, complementou a lista com mais um princípio (da Especificidade). Vamos a eles.

1º) Princípio da Individualidade Biológica

“chama-se individualidade biológica o fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz que com que não existam pessoas iguais entre si.” (TUBINO, 1984). Segundo o autor, dado estas particularidades, treinos individualizados tendem a apresentar melhores resultados. Porém, ao olharmos criticamente para as avaliações que comumente realizamos, perceberemos saber muito pouco destes alunos. Outro ponto a ser considerado, é que ao copiarmos os treinos de outros indivíduos (literalmente, copiar), tendemos a apresentar os mesmos resultados, diferindo apenas na forma, magnitude e velocidade destas adaptações.

Segundo DANTAS (1995), esta individualidade deve ser considerada, no indivíduo, como um somatório de fatores genotípicos e fenotípicos, dando origem às suas especificidades. Mais uma vez, na prática, não realizamos este tipo de avaliação e, na esmagadora maioria das vezes, sequer temos conhecimento das questões relacionadas a genética.

Ao olharmos para a literatura oriental, especialmente as obras produzidas por Matveev, perceberemos a origem deste conceito tão mal interpretado, aqui no ocidente.

Matveev elenca princípios pedagógicos que regem o processo de treino e, no quesito individualidade, ele lista a “orientação para máxima realização, para a especialização intensa e para a individualização”, que trata, basicamente, do aspecto didático e progressivo do treino, voltado a atender às demandas desportivas, de modo a levar o atleta a atingir seus resultados máximos, segundo as suas capacidades, ao invés de buscar enquadrá-lo em parâmetros globais.

2º) Princípio da Adaptação

Grande parte da fundamentação teórica deste princípio, baseia-se na teoria de Hans Selye (1959), cujos estudos focaram na compreensão do estresse. Em seus estudos, Selye percebeu que o estresse é inerente a toda e qualquer DOENÇA, e é um estado que se MANIFESTA ATRAVÉS da Síndrome da Adaptação Geral (SAG). Esta, por sua vez, compreende a dilatação do córtex suprarrenal (regulação do metabolismo energético pela liberação de glicocorticoides), atrofia dos órgãos linfáticos (efeito imunossupressor), úlceras gastrointestinais e perda de peso. O autor pondera ainda que a SAG é um conjunto de respostas não específicas que se desenvolvem em 3 fases (alarme, resistência e exaustão).

Mais tarde, na década de 70, o mesmo autor foi levado a perceber que o mesmo agente estressor, pode, seletivamente, estimular ou inibir um ou outro efeito. Isto estaria relacionado às características endógenas, sexo ou idade, ou ainda, por características exógenas, como dieta, drogas e tratamentos hormonais. Logo, a adaptação não estaria a cargo somente do caráter do estímulo, mas de todo o contexto envolvendo a vida do praticante.

Um ponto importante a tratarmos aqui, é que a fundamentação de Matveev para organizar as teorias do treinamento esportivo, não se basearam nas teorias de Selye, mas nos trabalhos de F.Z Meerson.

Meerson, em 1984, pondera que os efeitos adaptativos do treinamento, dependem de um sistema especial de adaptação, responsável por propiciar as condições que garantam a devida relação entre todas as variáveis sistêmicas, entre elas, hormonais, metabólicas, nervosas e morfológicas.

De modo muito equivocado, profissionais da área consideraram as 3 fases (alarme, resistência e exaustão) de modo a se relacionarem com a intensidade da carga de treino, sem considerar que os fatores que afetam a carga são tão grandes, que sempre teremos a presença das 3 fases, tal como sempre teremos, em diferentes níveis, o processo de adaptação ocorrendo naturalmente.

Próximo Post em 02/08/2022

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